Apesar dos avanços na integração comercial da América Latina, continua existindo um atraso em comparação com a Ásia e a Europa para apenas será superada com a colaboração dos setores público e privado.
Esta perspectiva foi abordada em abril deste ano, pela Associação Latino-americana de Logística (ALALOG) em sua primeira assembleia anual com a participação de representantes da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai.
Assim como cada representante dos países na reunião, José Antonio García, presidente da Associação de Operadores Logísticos no México expôs o panorama atual da logística no território nacional: "apesar de contar com 117 portos marítimos e 27.000 quilômetros de vias ferroviárias, temos muito que melhorar".
Agregou que o custo da logística no país representa 14% do PIB, sustentou que as estradas e os portos são investimentos privados, e que a única regulamentação existente é que as companhias estrangeiras não podem operar o transporte terrestre, por ser considerada uma atividade estratégica.
Uma situação semelhante foi manifestada pelo resto dos países motivo pelo que no final do evento foram resumidos os seguintes pontos de desvantagens competitivas do setor logístico na região:
A regulamentação em logística que rege nos países difere totalmente e em alguns casos é inexistente, o que impede um desenvolvimento estratégico e cooperativo na região que freia o crescimento de empresas trans fronteiras.
Apenas na Argentina (100%), Brasil (98%), Peru (90%) e México (75%) se reconhece a presença de operadores logísticos e de serviços de terceirização como um ponto forte para o desenvolvimento da economia de um país.
A visão estratégica dos projetos logísticos a nível nacional perde continuidade devido ao mutável entorno político e ideológico dos governos atuais, atrapalhando, ou em alguns casos, suspendendo sua execução.
A atividade logística nos diferentes países relata custos elevados, concentrados no consumo de combustíveis e pedágios pelo uso de estradas, e uma ineficiente gestão e padronização dos processos portuários.
O setor enfrenta o desafio de criar ou recuperar novos sistemas para o transporte (principalmente ferroviário), assim como trocar informação mediante canais digitais dentro dos países e entre eles.
Ineficiências logísticas, um obstáculo para a competitividade da região
O obstáculo que os custos de transporte representam para as grandes companhias ascende a entre 15 e 18 porcento de suas vendas, mas o peso é ainda maior para as pequenas e médias empresas, para as quais representa mais de 42 porcento de seus ingressos.
Isto freia o comércio e faz as empresas latino-americanas perder produtividade e competitividade.
As causas deste atraso na integração são muito óbvias para os observadores do setor:
- Escassez de serviços logísticos de qualidade que possam formar e atender de maneira eficiente uma cadeia de abastecimentos inter-regional.
- Infraestrutura deficiente, ou inclusive inexistente, não apenas em grandes portos e aeroportos, como também em estradas e vias férreas.
- Falta de implementação do mais avançado em tecnologias da informação e de comunicação.
- Difícil burocracia em trâmites aduaneiros que freiam o trânsito fluído de mercadorias.
- Alto índice de insegurança que obriga a fazer gastos adicionais para garantir a proteção e integridade das cargas.
Diante desta realidade, é evidente que a América Latina necessita de maneira urgente melhorar sua infraestrutura logística, buscando uma integração mais completa e com um apoio legal maior nos trâmites de comércio internacional para começar a participar como um jogador chave a nível mundial no que se refere a cadeias de abastecimento.
Ainda que pareça ser um desafio complicado, alcançar uma infraestrutura coordenada entre a região depende da participação econômica de cada país, começando com estratégias de crescimento locais, sem ter que exigir a construção de cadeias inteiras de abastecimento em todo o território.
Tratados comerciais, o motor do desenvolvimento logístico
México, Chile, Colômbia e Brasil são os países latino-americanos que mais investiram em soluções logísticas obrigados pelos tratados de livre comércio estabelecidos com outras nações.
Os investimentos governamentais em construção de estradas e renovação de portos e aeroportos, juntamente com o desenvolvimento de empresas logísticas que incorporam tecnologia e melhores práticas, oferecem serviços 3PL comparáveis aos de outras partes do mundo, permitiram a criação de cadeias de abastecimento eficientes.
No entanto, uma tarefa pendente segue sendo a modernização dos processos de importação em nações como o Brasil e o México, onde as mercadorias devem passar por depósitos fiscais antes de entrar ao território nacional, o que aumenta os custos e prolonga os tempos de entrega.
Fornecedores logísticos e governos, uma colaboração necessária
Os fornecedores logísticos 3PL mais avançados na região já estão oferecendo as soluções que as empresas exportadoras e importadoras demandam para atender melhor seus clientes finais.
Não apenas servem como empresas de transporte de mercadorias, como também se comportam como parceiras estratégicas dos fabricantes e comercializadores, oferecendo outros serviços que dão visibilidade e valor à cadeia de abastecimento.
A participação governamental deve se refletir no desenvolvimento de infraestrutura, mas também na integração e homologação dos processos de exportação e importação a fim de agilizar a passagem das mercadorias pelas aduanas.
E um fator também importante para melhorar os processos logísticos é a educação e capacitação do pessoal no tema.
Muitas universidades da região, e as próprias empresas logísticas, já anotaram e estão oferecendo programas acadêmicos especializados na criação, desenvolvimento e implementação de cadeias de abastecimento eficientes, assim como no uso das TI para digitalizar e otimizar os processos.
O exemplo do Chile e a atração de investimento
Na região, o Chile deu o exemplo em relação a desenvolvimento logístico. Em segundo lugar depois do Panamá, um centro nefrálgico da logística pela operação do canal transoceânico, o país do Cone Sul promoveu uma melhor infraestrutura e trâmites aduaneiros ágeis.
Em um estudo sobre a infraestrutura na região em 2016, o BID estimou os lucros que a América Latina teria ao melhorar sua infraestrutura:
- 20% mais investimento estrangeiro direto (IED) chegaria à região.
- 12% adicional de IED nos países ligados por acordos comerciais de integração.
- Maior atrativo se fosse melhorado o estado de direito para garantir o cumprimento de contratos em menos tempo.
A prometida integração como um modelo logístico unificado
Há alguns anos, empresas logísticas de vários países latino-americanos e seus governos se comprometeram a desenvolver um modelo logístico unificado para a região.
O objetivo final ainda não foi alcançado, mas os benefícios dessa iniciativa se refletiram em mais investimentos governamentais e uma rápida atualização tecnológica e operativa de grandes empresas 3PL que atendem importantes cadeias de abastecimento transnacionais.
Pilar dessa promessa de unificação é a integração de diversos meios de transporte em um serviço multimodal que leve as mercadorias com fluidez desde sua origem até seu destino final.
A União Europeia se instituiu como um exemplo a ser seguido, já que sua integração comercial, que culminou com o livre trânsito de mercadorias e pessoas a partir de 1993, resultou ser a principal razão para a redução de custos logísticos e para o fortalecimento das exportações para todo o mundo.
Os fatores que exercem pressão
Na América Latina, o primeiro passo foi tomar consciência da importância de uma logística ágil e eficiente para melhorar a integração comercial entre as nações e a competitividade das empresas.
Mas, ainda que se tenha avançado nos planos de integração, e algumas empresas logísticas já comprovaram sua viabilidade e eficácia, é necessário lubrificar a engrenagem e acelerar sua implementação.
Outro fator que exerce pressão no aceleramento do desenvolvimento da logística como base para a integração são os acordos comerciais inter-regionais e internacionais, os quais incitam a que os países deixem para trás uma visão local para adotar uma baseada no consenso e na colaboração.
A participação dos setores público e privado deve se basear na convergência de objetivos a fim de facilitar a execução dos planos para criar e implementar cadeias de abastecimento eficientes que impulsionem a produtividade e a competitividade.
Áreas de particular interesse para o avanço logístico
As áreas em que os esforços para alcançar uma maior integração na América Latina devem se concentrar são:
- Infraestrutura, com a criação de redes de transporte intermodal, plataformas logísticas que integrem serviços aduaneiros ágeis e sistemas de telecomunicações que facilitem a troca segura de informação ao longo da cadeia de abastecimento.
- Serviços, que vão além do transporte para incidir na criação de valor para as empresas exportadoras e importadoras.
- Processos, enfocando-se na automatização, na harmonização e na simplificação a fim de dar visibilidade às mercadorias desde sua origem até seu destino, facilitando sua passagem por instalações aduaneiras.
- Informação, com a integração e homologação de sistemas para garantir que possam operar uns com outros e seja fácil verificar a validade da documentação das cargas.
- Gestão, melhorando os sistemas de supervisão de processos e de trâmites.
- Institucionalidade, fomentando o diálogo entre o setor público e privado e a coordenação de tarefas conjuntas.
- Regulação, a fim de harmonizar os regulamentos e melhorar a transparência.
As perspectivas para a região são encantadoras, como já demonstraram o México, em sua integração com os mercados dos Estados Unidos e Canadá, e o Chile, em seu avanço como um dos países com melhores serviços logísticos do mundo.
O investimento governamental e privado em infraestrutura e tecnologias da informação deve ser maior e constante, mas os lucros que a integração comercial promete em produtividade e competitividade compensam.